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A jornada de hoje começou cedo, ainda não eram 8h, segundo o boletim metereológico, o dia adivinhava-se quente, com as temperaturas máximas a subirem, interrogámo-nos se o caminho de hoje teria sombras e cursos de água para refrescar! Arrancámos da pensão onde pernoitámos por volta das 7h30, já com as bicicletas lubrificadas e prontas para mais uma etapa, até agora apenas tivemos um furo e perdeu-se um parafuso da bicicleta do Artur, mas nada de grave. Ainda não tínhamos aquecido os músculos, e eis que se imponha uma paragem obrigatória, estávamos a passar por uma ponte romana com uma cache, supostamente ela estaria lá, mas vasculhámos a ponte toda e nem sinal dela, foi o nosso primeiro DNF (Did Not Found). A paisagem durante a manhã continuou verdejante e bonita, destacando-se as muitas igrejas em granito. Para lembrar os trilhos da nossa terra, praticámos BTT a sério logo no primeiro trilho, com umas descidas algo técnicas em que dificuldade foi conseguir ver o trilho, pois íamos com óculos escuros e a luz do dia, dada a hora da manhã ainda era fraca.
Em Valença, tínhamos o “staff” à nossa espera, já com pão quentinho comprado e as cervejas fresquinhas, para comermos o nosso segundo pequeno almoço! Sim porque a senhora de pensão só tinha dois pães para cada um, e um de nós esticou-se, pelo que parece que um dos peregrinos menos madrugadores, ficou com um pão a menos. Como temos tido muito desgaste físico, e temos de gastar os bolos da Cristina, as cervejas do Júlio, o lombo e os ovos cozidos da minha mãe, e a morcela do Pedro, impõem-se estas paragens estratégicas. Oportunidade para ligar a alguns trilheiros amigos apenas para lhes mostrar o que estavam a perder! Ainda antes de abandonar Valença em direcção a Espanha, e como não vimos apenas para peregrinar, fomos visitar as muralhas de Valença e carimbar a credencial no turismo. Ao visitar as muralhas, assaltou-me de novo um sentimento que já tinha tido ao atravessar a ponte entre Barcelinhos e Barcelos no dia anterior, sentimento esse que me fez telefonar à família a desejar um bom dia. Lembrei-me de já ter andado nestes mesmos locais com a família e agora, o facto de estar aqui, em cima de uma bicicleta e com este belo grupo de trilheiros foi algo que nunca pensei fazer na vida, é estranho, e para mim que nunca fui destas coisas de desporto, senti-me bem…
Atravessando a ponte de ferro, cruzámos a fronteira para Espanha e percorremos uma parte do trajecto menos bonita, na zona industrial de Porriño, mas é o caminho e tem de ser cumprido. Cumprimentos trocados com uns Portugueses da Figueira da Foz, num café onde carimbámos e abastecemos de água, continuámos caminho. O almoço foi merecido, o nosso staff, puxou por nós e só nos esperava ao Km 50 deste etapa de hoje, debaixo do Sol quente e já com cerca de 40Km percorridos iniciámos uma subida que por si só justificaria o almoço, os dois pequenos almoços gastaram-se e foi necessário alguns de nós recorrerem a umas barritas para a vencer, nada que não estejamos habituados com a nossa maunça, mas… No topo da subida, aconteceu uma situação engraçada, tivemos direito a um batedor numa moto, que nos indicou o caminho e nos mandou parar num restaurante. Como somos meninos de aceitar bons conselhos e o nosso staff ainda estava uns Km à frente, com um telefonema e dadas as coordenadas de onde estávamos, ele veio ao nosso encontro. Almoçámos muito bem, e sequiosos que estávamos também bebemos alguns jarros de cerveja, foi para repor os electrólitos. Na rua o calor estava a ficar intenso, mas o caminho tinha de ser cumprido, reabastecidos os camel baks e as jerseys com os powerade’s do nosso patrocinador no bolso, pusemo-nos a caminho. Passada que estava a cidade de Redondela, voltámos a encontrar um grupo de Portugueses a descansar numa das muitas sombras que os trilhos por onde passávamos ofereciam, como já devem ter percebido, tudo é pretexto para parar e falar um bocadinho, não levássemos nós o Artur, vendia o no nosso blog a toda a gente, por isso é de esperar um aumento significativo de visitas nos próximos dias. Mas ainda bem que não parámos aí para descansar, pois um pouco à frente esperava-nos o carro de apoio, estava um calor após o almoço que justificou mais uma paragem para reabastecer, mais uns kilómetros percorridos e quando iniciámos uma descida, deparámo-nos com uma paisagem magnifica, a baía de Pontevedra ao fundo da descida, a serra por trás e no meio desta descida com esta paisagem, uma tenda para descanso e apoio ao peregrino, excelente momento de descanso, como se pode ver pelo registo fotográfico. Nem andámos 500m esperava-nos novamente o carro de apoio ao fundo da descida com as minis fresquinhas e num jardim relvado onde podemos descansar um pouco… outra vez…
O momento alto do dia foi a meio da tarde, quando ao atravessar um ribeiro, vimos uns portugueses dentro de água, nem hesitámos, em poucos minutos estávamos deitados dentro do ribeiro, uns vestidos outros menos, e outros com telemóveis e tudo, um verdadeiro espectáculo, excelente, claro que ao passarem mais peregrinos portugueses alguns, os menos “prós” do pedal, prontamente aceitaram o convite e banho com eles… outros ouve que não tinham tempo… como diz o Rui G. é bom levantar cedo para termos tempo para estas coisas…
Esperava-nos uma subida numa estrada romana, onde nos impressionou os sulcos nas pedras, rasgos feitos pelos rodados das antigas carroças romanas, é impressionante o desgaste causado pelas antigas rodas de ferro e ao tempo que por ali se peregrina.
Dormimos em Pontevedra, depois de 73Km feitos, e com uma subida acumulada de 1625m. Caches, hoje ainda não tínhamos conseguido nenhuma, nesta zona de Espanha à poucas, pelo que após o jantar, que também foi bom, como tem sido hábito, lá tivemos de ir à procura de uma.
PS: Esta crónica de hoje foi feita a 130Km, durante a viagem de regresso, antes e depois do almoço. Esta vida de cronista não é fácil, após a jornada diária por mais vontade que eu tivesse de escrever, não havia tempo, tínhamos de ir repor energias, e neste segundo dia foi deitar à 1h e levantar às 6h30, desculpem-me os amigos trilheiros TSF, que estavam ansiosos por noticias nossas, mas a vida de peregrino não é fácil… prova disso são os telefonemas que tivemos dos nossos amigos. Obrigado pelo interesse…
Cláudio Costa, a caminho de Santiago
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