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A Grande Rota do Zêzere pelos Trilhos Sem Fim

por Trilhos Sem Fim, em 09.06.16

GRANDE ROTA DO ZÊZERE: GRANDE ROTA DOS ZENTIDOS


À hora combinada todos fomos sendo recolhidos pelo mini-bus da EST a caminho do Covão d'Ametade onde estava previsto chegarmos antes das nove horas para encetarmos mais uma aventura e travessia dos Trilhos Sem Fim. Assim aconteceu e quando eram nove horas já as fotos da partida estavam concluídas e nove TSF desciam vertiginosamente o vale glaciar em direção a Manteigas. Daí até ao magnífico e fresco parque de merendas de Valhelhas foi um tiro. Embora já soubéssemos quem teríamos à esperar-nos ficámos, mais uma vez, muito surpreendidos pela gentileza do apoio da família Leitão de Freches que nos brindou um lauto pequeno-almoço cujas sobras (deliciosas sobras!) nos deram para alguns outros pequenos-almoços e, ainda! para completar os picnics que tínhamos levado de casa para mais dois almoços.
Sabemos que o nosso blogue é seguido por esta exemplar família e gostaríamos de deixar aqui publicamente o nosso reconhecimento e o convite - que esperamos venha a ser aceite num prazo curto - para podermos recebê-los em Leiria com a mesma alegria com que sempre nos recebem e brindam. Bem hajam, família Leitão!
O primeiro dia, aparentemente suave, não foi tão suave quanto parecia e a travessia da Cova da Beira, onde as cerejas este ano escasseiam dramaticamente foi mais doce que os outros dias mas um pouco dura, tal como os caroços das cerejas, dada a elevada e desgastante distância.
Já os dias seguintes, todos com excepção do último, foram duros para burro. O último equivalia em termos de distância e acumulado ao que estamos habituados a fazer aos domingos se bem que após quatro dias sucessivos e 400kms e quase 10.000 metros de acumulado a coisa não foi tão fácil como as nossas voltas domingueiras. Esta GRZ contém inúmeras subidas que são do mais democrático que pode haver em termos de btt: TODOS TÊM QUE DESMONTAR DAS BURRAS E CAMINHA COM A BIKE À MÃO OU ÀS COSTAS. Muitas picadas e caminhos pedregosos que nem as cabras os toleram faziam lembrar autênticos treinos de fuzileiros.
Mas, esta Grande Rota do Zêzere é, sob muitos aspectos, uma GRANDE ROTA DOS ZENTIDOS.
OLFACTO - Estimulado pela imensa e diversificada flora, desde a hortelã que pisámos nos caminhos, passando pelo rosmaninho e esteva branca foi um festival de doces e fortes sensações olfactivas;
TACTO - Espicaçados bastas vezes por tojo e delicadas silvas que amiúde nos faziam lembrar que tínhamos pernas apesar de tantas vezes procurarmos tentar esquecer que as tínhamos, porque assim doíam menos;
PALADAR - Atascado pela deliciosa logística da família Leitão de Freches;
AUDIÇÃO - Para além da já famosa geringonça do nosso companheiro Rui Gaspar que, a meio, passou a concertina para o Cláudio e que nos deu música desde Bob Marley até Quim Barreiros com intervalos publicitários para os cereais da marca Noku (que patrocinaram a geringonça musical) tivemos - nos grandes intervalos - a companhia constante do chilrear de passarinhos que nunca nos deixaram sós e, nos parecia, fazerem traduzir o seu chilreio numa espécie de apoio que parecia dizer: força que vós sois capazes; Fomos capazes!!! E ainda tivemos tempo para curtir as paisagens e fazer várias "caxes..."
VISÃO - O último mas quiçá o mais estimulado sentido! Com paisagens absolutamente deslumbrantes percebemos quão ignorantes somos, tantas vezes, em relação ao mundo que nos rodeia e está tão próximo de nós! Estão de parabéns as entidades que levaram a cabo este projecto que, permanentemente e de forma regular e constante, nos vai orientando e fornecendo ímpares e ricas informações sobre a flora, a fauna, actividades económicas, histórico-geográficas e outras. Painéis de grande dimensão e excepcional qualidade estética vão-nos mostrando o que está feito e o que falta fazermos. Isto, desde Covão d'Ametade até Constância. Painéis horizontais quase mesas mas, também, painéis verticais muitas vezes sobre abrigos de madeira com mesa e bancos para podermos descansar e restabelecer forças.
Peripécias no caminho - neste longo e muitíssimo duro caminha - não foram muitas e a viagem decorreu de forma pacífica e sem acidentes. Somente uns assentamentos que não foram dignos de classificação de queda e um esbardalhamento em suave e doce pedra de xisto ficaram para a história. Como para a história ficou um furo/rasgão que, não sendo simples, foi resolvido a contento. Não podemos esquecer, neste desfiar de pequenos contratempos, uma avaria de travões numa das bikes e uma coça monumental dos discos e dos calços de todas as bikes, particularmente nos deste cronista que sempre se atrasa mais a descer que a subir...
Antes de chegarmos à foz houve muitos momentos interessantes que todos recordaremos e irei deixar aqui a referência a somente alguns porque seria fastidioso fazê-lo em relação a todos e - especialmente! - porque não tomei notas de nada durante o percurso e ao chegarmos só queria era descansar não fosse o diabo tecê-las e não conseguir chegar a Constância a pedalar para, após quase 400 quilómetros e 11.000 metros de subidas, poder mergulhar nas águas do nosso querido Zêzere na companhia de todos os companheiros de aventura que foi norteada pelo princípio do "... antes quebrar que torcer!". Não quebrámos nem torcemos e o almoço final foi ultrapassado com muita galhardia e alguns canecões de cerveja fresca.
Alguns episódios: Na Abitureira, ao pararmos para a leitura dos painéis informativos pudemos entrar numa venda à moda antiga, muito antiga!, que vai sendo a única superfície comercial para os últimos 14 habitantes duma terra que, antes, "... tinha as ruas cheias de gente.". Palavras tristes do senhor António, com um ar jovem e carregado de saúde, pesem embora os seus 67 anos. Parecia homem de 50. Que, questionado porque ficou e não emigrou, nos disse com um fulgurante brilho nos olhos: aqui nasci, aqui brinquei, aqui cresci e aqui amei. Deduzia-se, e não disse nem seria preciso, que ali quer acabar os seus dias. Naquela como noutras inúmeras e belíssimas terras, que em regra só têm idosos, é habitual passarmos sem ver vivalma e nas estradas secundárias sempre podíamos trepar à esquerda à procura de sombras sem qualquer espécie de contratempo. Por estradas e estradões (diga-se que de uma enorme qualidade e razoável conservação) sinais de vida quase só dos madeireiros e um ou outro agricultor nas suas pequenas hortas ou num ou noutro cruzamento para nos acudirem com ainda mais informação do que toda a de que dispúnhamos e levou uma senhora de provecta idade a dizer-nos, em Vila de Rei, usem essas coisas que aí trazem e vos levam a todo o lado...
Não pode é terminar-se este arrazoado sem lembrar os episódios em que tirámos meias para atravessar uma vala na parte da manhã, voltámos a calçar as meias e passados 100 metros havia outra vala! Arre porra... Mas, melhor foi quando nas margens do grande lago, ao terceiro dia, tivemos que atravessar água que nos subiu acima da cintura e um de nós retirou cuidadosamente as meias e as colocou na perneira dos calções de lycra. Julgaria que, tal como patinho da anedota que passou com água pelo peito ela não iria subir acima do seu joelho. Subiu!... e molhou-lhe as meias eheheheheh.
O almoço e piquenique na praia do Penedo Furado serão inesquecíveis.
Desta vez acredito que os meus companheiros enriqueçam este relato e documento histórico (para nós, claro!) com os seus contributos e comentários sobre tantos e ricos episódios que sozinho não consigo descrever nem contar tão bem...
Sendo certo que uma imagem vale mais que mil palavras e termos quase mil imagens para publicar, seria fastidioso esperar-se que aqui quiséssemos relatar tudo o que vivemos.
A nossa mensagem para quem nos lê poderá ser mais ou menos a seguinte:
De carro (quando isso é possível por estrada e estradões), de bicicleta ou até a pé, organizem as vossas agendas e venham ver um Portugal de rara beleza, com inúmeras praias fluviais, antes de rumarem ao estrangeiro. Venham primeiro conhecer a nossa terra que é tão rica e ignorada pelos nossos distantes políticos em distantes gabinetes lisboetas. Para todos nós ficou a sensação de nunca mais esquecermos este rio e as suas margens e de tantas vezes quantas pudermos a ele regressarmos para deleite dos nossos sentidos na companhia das nossas famílias. Isto, sim!, é promoção turística da boa. Não vai haver sempre o apoio da família de Freches mas há uma enorme e diversificada oferta gastronómica em toda esta GRANDE ROTA DOS ZENTIDOS!

Alípio Lopes

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publicado às 11:03


1 comentário

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De D'Armindo a 13.06.2016 às 12:56

Muita Beleza do percurso e proximidade com as águas do Zêzere, em proporção devida de Dureza, ainda assim é isso que faz com que o fato de ter sido superado tenha mais valor ainda. 
Menos de 5 dias é sofrível, menos de 4 impensável...

Agradecimento especial:
-  às instituições e entidades que ao longo do caminho nos acolheram;
- ao trabalho logistico nomeadamente aos bons tracks preparados, roadbook, que nos permitiram no terreno que as coisas corressem pelo melhor;
- à família Leitão, não há palavras.
- EST, na cedencia de carrinha em mais um ano de Rota;
- Ao Sr. Helder Costa, pelo apoio de carrinha, por estar na hora certa no local certo, pelo apoio e trabalho alimentar, de arrumação, etc, etc e sapiência... no apoio à decisão. Bem haja!
- Aos companheiros de Rota.


Até à próxima aventura!

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